"Fúlvia morreu sem saber, o último dia, morremos todos assim, o maldito último dia, você acorda, pensei, o dia está claro, um céu azul, maravilhoso, ou um dia cinzento de chuva, não importa, também é maravilhoso, você pode fazer amor com a mulher que ama, fazer filho, pode escrever um livro, plantar uma árvore, deitar-se no sol, deitar-se na chuva, mas você não faz nada, nem ama, nem escreve, nem planta, você simplesmente desperdiça o dia, enfia o dia no lixo, você vai ao banco, conserta a torneira, fala com o contador, você se irrita com o telefone que não funciona direito, joga o dia no lixo, e às cinco horas da tarde, pum, morre. Ninguém te avisou que aquele era o último dia."
[Patricia Melo, Elogio da Mentira]
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